UMA CASA CHAMADA SELF
Capítulo I
"A Festa de
Boas-vindas"
Alguns apelidavam
aquele tempo como "tempo de guerra", tempo que o amor não existia
mais, e o que falava eram os papéis dourados que vinham timbrados com números
gigantescos e com rostos dos heróis mortos. Nada mais se falava, além do
passado de cada estudante naquela casa de cor verde e branca apagada.
Quem quisesse
namorar uma rapariga daquela casa tinha de ter esses papéis dourados, poucas
vezes elas importavam-se com a beleza, a inteligência, o carácter, a simpatia,
a generosidade e os planos reais que eles tinham com elas. Para elas, os papéis
dourados já eram bastantes. Era uma espécie de sobrevivência em que só
sobreviviam aquelas raparigas que tipicamente eram mais fortes (espertas).
As regras eram
rígidas e bem claras, ninguém devia namorar rapazes (homens) pobres, quem
quisesse suportaria com as sequelas. A transmissão dos pertences baseava-se num
princípio lógico, embora excitador a caminhos já conhecidos. O princípio era
"NÃO VOLTE MAIS", caso uma rapariga emprestasse qualquer coisa a
outra. Isto porque todas elas estavam capacitadas para seguirem o caminho
percorrido para a aquisição do bem, pois, todas tinham as peças suficientes
para importarem qualquer bijuteria caso quisessem.
Outra coisa que
resplandecia nos rostos daquelas estudantes, é que nenhuma delas era pobre.
Todas elas tinham quase as mesmas condições, embora houvesse ligeiras
diferenças, mas os costumes não eram diferenciados.
Não restam dúvidas
que era pouco provável que pudesse nascer um grande amor naquela casa de cor.
Ninguém nunca podia imaginar um amor perfeito entre dois estudantes daquele
prédio, em que o rapaz não estava coberto de bugigangas e ouro. Ironicamente,
algum tempo depois ouviram-se boatos que a rapariga mais estranha estava
namorando com o colega daquele mesmo prédio. Tudo aparentemente passava de um
boato, de um mal-entendido, estava muito longe de ser uma verdade nos tímpanos
das pessoas que já conheciam o tratado.
Tudo começou numa
festa de boas vindas aos estudantes recém-chegados, muitos deles vinham do
Campus Universitário Principal, comumente chamado por Tangará, onde muitas das
raparigas viviam, outros, da residência número 5 e uma minoria da residência
número 8.
A festa estava
prevista para as 10 da noite, no 8° piso, na sala de estar. Tudo estava pronto,
os homens reluziam trapos e perfumes novos, alguns já zumbiam uns com os
outros, "yeah, hoje aquela gaja vai ser minha", "hoje aquela
gaja não me escapa" entre outras expressões típicas dos rapazes. Já as
mulheres estavam excitantes, com andrajos que fisgavam os olhos masculinos.
Elas palravam umas com as outras, "aquele moço parece ser fofo, hoje vou
seduzi-lo", "aquele moço tem emprego fixo, ele é Advogado, então vou
hipnotiza-lo", e por aí em diante…
Todos estavam
empolgados, quer os rapazes, quer as raparigas. Todos não, quase todos,
menos a Victória Rubane, a rapariga mais estranha daquele prédio para muitos
dos rapazes. Ela era sem dúvidas bonita e simpática, muito brincalhona, a
única sem antecedentes criminais (pouco se sabia dela), não tinha namorado,
vestia-se estranhamente e muitas das vezes brincava com os rapazes. A sua
amicíssima era a Neli, quem ela confiava os seus segredos.
A festa estava no
auge, as raparigas bamboleavam-se dum canto para o outro e os homens caminhavam
juntamente com elas. Depois de algumas horas já se tinham formados alguns
casais, muitos deles, constituídos pelas mulheres mais robustas e pelos homens
possuídos e maleáveis, outros, pelos homens que aparentavam uma boa
estabilidade financeira com as mulheres cegas e maleáveis.
Noutro canto da
varanda estava a Victória Rubane, sozinha, pensativa e calma. Ela estava muito
aquém das suas expectativas, por isso franzia desapontamento no seu rosto. De
longe estava o Paulo Furai com os seus olhos agarrados nela desde o primeiro
momento que se cruzaram, ambos nunca mais deixaram de se olhar, embora a
Victória guardasse segredo.
Cada vez mais que o
tempo passava, o Paulo apaixonava-se ainda mais. Todos falavam bem dela e
alguns até resmungavam em surdina, "se existe uma mulher para namorar
neste prédio, certamente é a Victória, ela sim, tem tudo que o homem quer, um
comportamento perfeito e não é como as outras raparigas” – disseram os
amigos do Paulo. Repentinamente aproximou-se o David perguntando sobre o que
eles tanto murmuravam, depois de ouvi-los disse lentamente, "não perca o
teu tempo, ela é lésbica..."
Lavimó da Verónica
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